Decorreu na Oficina de Conservação do MNC uma intervenção de conservação e restauro particularmente relevante para a valorização do acervo do museu. Trata-se do restauro de uma escultura policromada, intitulada “Estafermo” (Invº. A 3122). Esta escultura, de vulto perfeito em tamanho natural, oca no seu interior, está datada de finais do séc. XIX, e tinha como finalidade auxiliar nos exercícios de equitação que se realizavam no antigo Picadeiro Real.
A ação de conservação e restauro deste importante Bem, surgiu do interesse da organização de uma exposição temporária que inaugurou no dia 19 de dezembro de 2023, nas instalações do MNC – intitulada “O Torneio da Rainha”, onde devido à temática da mesma, a referida escultura desempenha um papel importante no decurso expositivo. É importante referir, e agradecer, o importante e indispensável apoio mecenático, feito por um particular, que irá permitir devolver este Bem à fruição pública, devidamente restaurada
Para se poder dar início aos trabalhos de restauro, foi necessário retirar a escultura da fruição do público, onde sempre esteve desde a inauguração do Museu Nacional dos Coches, em 1905. Para tal, foi fundamental separar a escultura do seu plinto, que lhe serve de base, e só assim transportar estes dois elementos desde as instalações do antigo Picadeiro Real até às oficinas de conservação do novo edifício.
De forma resumida e simplificando, as ações de conservação e restauro incluíram: a pré-fixação (realizada antes do transporte) e a desinfestação de todo o Bem. A partir daqui subdividiu-se a intervenção de restauro. No plinto foi realizada uma complexa e importantíssima consolidação de todas as madeiras estruturais, acompanhada do acrescento de novas madeiras, substituindo aquelas que não tinham viabilidade de aproveitamento, e/ou que estavam em falta; foi revista toda a parte estrutural, pois trata-se de uma seção importante para o correto funcionamento da mecânica da escultura; por fim procedeu-se ao preenchimento das lacunas e à sua respetiva reintegração cromática.
No caso da escultura em si, cujas ações de conservação e restauro ainda decorrem, destacam-se: a remoção do verniz bastante alterado e oxidado, a remoção dos antigos restauros; o preenchimento com massas e balsa das zonas em falta; a reintegração cromática e por fim a aplicação de uma camada de proteção final (que será dada a todo o conjunto).
Ainda que mais pontuais, mas ainda assim não menos importantes, são os restauros feitos nos elementos metálicos e nos elementos de cabedal, que ainda estando em número mais reduzido, também fazem parte deste Bem e como tal devem ser contemplados.
Enaltecendo as equipas que cuidam do nosso património, é digno de mencionar que as intervenções descritas têm vindo a ser realizadas por:
Lina Falcão (CR de Cabedais, freelancer/externo do MNC);
Mariana Cardoso (CR de Metais, freelancer/externo do MNC);
Nuno Augusto (CR de Pintura do MNC);
Tiago Dias (CR de Mobiliário e Talha Dourada e Policromada, freelancer/externo do MNC).
(Texto – Nuno Augusto, CR MNC)
OUTRAS INFORMAÇÕES:
A escultura, pertencente aos Bens da Coroa, procede do antigo Picadeiro Real de Belém, cujo centro ocupava, servindo de poste para exercícios de equitação. O nome por que é vulgarmente conhecida provém do jogo de destreza em que esta figura era utilizada: a “Corrida ao Estafermo”. O cavaleiro, armado de lança de botana, tinha de galopar em direção à escultura, tocar com a lança no seu escudo, e logo fugir para não ser atingido pelo chicote. Atrás do Estafermo encontrava-se um lacaio, cuja função consistia em repor a figura na posição original. A escultura serviu no Torneio de Beneficência realizado no Hipódromo de Belém em 1892, em que se confrontaram o “fio” verde e branco, chefiado pelo Infante D. Afonso, e o “fio” azul e laranja, liderado por D. António de Siqueira. Cerca de 1904, quando tiveram início os trabalhos de adaptação do Picadeiro a Museu, a escultura foi retirada do centro da quadra (atual Salão Nobre), passando a integrar o acervo do Museu dos Coches Reais.