Museu Nacional dos Coches

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E porque nem tudo são Coches…!

Distintas e variadas são as tipologias de Bens que ao longo dos anos foram constituindo os núcleos temáticos reunidos neste emblemático Museu Nacional.

A sua existência corrobora e dá expressividade à nossa conjetura de que “nem tudo são Coches”!!

 

Maioritariamente relacionados ou com a coleção nuclear de viaturas ou com a prática equestre desenvolvida exemplarmente por diversos membros da Casa Real enfatizamos, desta vez, uma tipologia de Bens que se insere na categoria dos Atavios Equestres, os Telizes.

Tratando-se de um artefacto existente há longa data, sentimos necessidade de recuar uns séculos, socorrendo-nos da descrição mais longínqua e assertiva que encontrámos, a de Raphael Bluteau:

TELIZ “Querem alpuns, que sefa um nome arábico.

He o panno com que fe cobre a fella do cavallo, quando apeia o Principe; ou o Fidalgo”

BLUTEAU, Raphael, 1721

 

Meio século mais tarde, no Volume II do Dicionário Morais, esta informação seria complementada, referindo-se no Dicionário Morais:

 

TELIZ , fi m. panno com’ que fe cobre a fella do cavailo em quanto o cavafíeiro eftá apeado , de ordinário traz bordadas^ as fuás armas.

Morais, 1789, Vol II

 

Desta forma, e com “meio caminho andado”, podemos na atualidade descrever o TELIZ como um amplo fragmento têxtil que serve para cobrir na totalidade a zona dorsal do cavalo e, em parte, os flancos laterais.

É incontornável o seu carácter decorativo e simbólico uma vez que, na generalidade, ostenta bordadas as insígnias da família que o possui.

Geralmente manufaturado com tecidos nobres como algodões lavrados ou adamascados, veludos ou sedas, por vezes bordadas fio de prata, afigura-se sem dúvida como uma peça de aparato.

Desenhado simetricamente sobre um eixo central, tem um contorno irregular.

Num dos lados delineado por um semicírculo que contorna generosamente a garupa do equídeo, do outro recortado com uma espécie de aletas, com formato retangular que, unidas à frente, acompanham o peito do cavalo.

O verso do Teliz é geralmente reforçado com uma estopa grossa que confere robustez à peça e simultaneamente evita o contacto direto, tanto com o pelo do animal como com o cabedal dos arreios.

Apresentando-se o cavalo arreado, esta peça cobre toda a área da sela, sendo por isso utilizada apenas quando o cavaleiro está apeado ou quando o cavalo segue, conduzido à guia.

Na atualidade estes emblemáticos testemunhos do passado continuam a desempenhar a sua função utilitária nas corridas de touros “à antiga portuguesa”, em especial na fase inicial “das cortesias”, ou noutros casos – a decorar superfícies parietais em antigas casas senhoriais ou nobres solares portugueses.

O Museu Nacional dos Coches congratula-se por preservar uma notável coleção de TELIZES, que pode ser apreciada no Antigo Picadeiro Real ou no novo edifício – tanto no percurso expositivo como em ambiente de reserva – através de visitas previamente agendadas.

(Rita Dargent, 2022)