Museu Nacional dos Coches

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Curiosidade do mês … de junho

SABIA QUE…
Devido à Revolução Francesa de 1789, “anglomania” passou a estar na moda, privilegiando-se a encomenda de viaturas hipomóveis mais ligeiras e de menor sobrecarga decorativa, em Londres.

 

Por Decreto da “Convention Nationale”, foi ordenada em França a destruição de todas as viaturas de luxo da Casa Real e da nobreza: “É tempo de fazer desaparecer todos os seus sinais e todos os seus atributos: é preciso que deles não fique o mínimo vestígio”*

Deste modo, no início do século XIX, a influência francesa na construção de viaturas hipomóveis para a casa real e nobreza portuguesa foi substituída pela inglesa.

Em Portugal, uma das primeiras campanhas publicitárias à importação de veículos do tipo inglês foi apresentada na Gazeta de Lisboa, em 1795, com o seguinte texto: «Quem quizer comprar por preço muito comodo uma carruagem de dois assentos, montada em molas, guarnecida de veludo cortado e riquíssima pintura, sendo o jogo última moda, tudo feito em Inglaterra fale com Luís Antunes, Mestre correeiro morador no Palácio do Lavre, à Anunciada».

A referida viatura – carruagem – terá tido origem em Inglaterra no século XVIIII. De maior comodidade do que o coche ou a berlinda devido ao novo sistema de fixação da caixa suspensa por correias curtas a molas de aço em forma de C, esta tipologia apresenta dois ou quatro lugares e caixa abaulada na parte inferior, sendo o acesso ao interior feito através de um estribo desdobrável. Na carruagem, a segurança da condução é facilitada pela elevação do banco do cocheiro e a introdução de lanternas para maior visibilidade e o conforto melhora com a nova suspensão da caixa por correias curtas e molas de aço em forma de C.

Despojada de grandes trabalhos de talha, substituídos em alguns casos por aplicações de prata ou casquinha a emoldurar os painéis pintados, em geral com grande sobriedade, em que o maior destaque é dado aos brasões de armas do proprietário, e com o interior em que predominam as sedas de cor lisa, tirando partido decorativo da forma como era estofado, em especial do capitonné, a carruagem vai ter uma grande aceitação ao longo do século XIX.

A título de curiosidade, destacamos a «Carruagem da Coroa» e o respetivo arreio de tiro, mandada construir em Londres para D. João VI, no ano de 1824, pelo Conde da Póvoa, então ministro da Fazenda.

Sofreu adaptações para a coroação do rei D. Carlos e foi utilizada pela última vez em 1957, quando a Rainha Isabel II de Inglaterra visitou Portugal.

 

 

 

 

*BIBLIOGRAFIA:
PEREIRA, João Castel-Branco – Viaturas de Aparato em Portugal. Lisboa: Bertrand Editora, 1987, p.79
PEREIRA, João Castel-Branco (2020) – O Rococó nas viaturas de gala em Portugal. Artis: Revista de História da Arte e Ciências do Património[Moniteur Universel .213 (1796)], p. 120